sábado, 20 de setembro de 2014

Nota de uma [suposta] virose


Às vezes é difícil entender as engrenagens que movimentam os microcosmos de cada um.

De quem se espera compreensão e cumplicidade, vem os ataques e as acusações ("mesquinhez e egoísmo", "insensibilidade e arrogância").

Do que se espera o mínimo de colaboração - e por que não o próprio corpo? - vem a derrota após horas e horas de estudo, estresse, apetite perturbado, sono prejudicado.

Faz quatro dias que não lembro o sabor da saúde regular, que não sei o que é o conforto de não sentir a dor física impregnando todos os meus sentidos. Mas há meses suporto minha deterioração, exigindo sempre mais, deixando-me conduzir por discursos de invencibilidade.

"Perdeu 11 quilos? É fácil, você tem 18 anos. Estuda onze horas por dia? Devia estudar mais, não tem casa pra sustentar. Trabalha duas vezes por semana? Tão pouco, nem devia cansar. Problemas pessoais? Todo mundo tem. Dorme mal? Eu também, problema seu."

Mas pior que a traição dos que amamos é a traição do próprio corpo, capaz de engaiolar-nos perante qualquer passo em falso.

Nada como analgésicos que não funcionam para lembrar que nem tudo é decepção, coração partido, alma escorraçada.

Às vezes é dor literal e não-literária. Órgãos, sintomas, carne, pele e entranhas. Simples assim.