terça-feira, 1 de outubro de 2013

Façamos uma pausa.

Em verdade, faço uma pausa eu, enquanto na escola, sob a iluminação opressiva da luz branca e com o relógio a tiquetaquear numa lentidão sufocante.

O uso da 3ª pessoa do plural justifica-se pelo meu frágil otimismo, a vã esperança de ser entendida por um leitor ocasional.

E sua compreensão, caro transeunte, precisará aprovar - quem sabe apenas por cumplicidade - meu enfado, pesado fardo.

Suspiro ao ouvir palavras que já sei de cor, e a cadeira na qual repouso soa mais como prisão.

O tédio gera esta vontade louca de mover-me, de sentir algo além deste descontentamento, que se instala no estômago e parece rastejar até o cérebro, pedindo por distração, ação, coração - um verbo qualquer que se sobreponha ao vazio pulsante.

Talvez bastasse a saída. Sair de contexto, cenário e roteiro, pular da janela do terceiro andar e chegar ao chão ilesa (e de preferência tirar a poeira de meu vestido azul, à la Alice no País das Maravilhas, com toques de Tim Burton).

Imitar uma brisa de fim de tarde, inventar umas mentiras agradáveis, ouvir um segredo sussurrado. Esquentar pizza no microondas, podar flores, apostar e perder, vender meu casaco mais velho. Assassinar algum preceito indiscutível, discutir um preconceito indesejado, errar e começar de novo sem resmungar. Atravessar ruas sinuosas, tomar sorvete, soprar bolhas de sabão e assisti-las ascendendo ao céu, tendendo ao infinito (assim como a equação que o professor de matemática desvenda no quadro negro, sempre cínico, em sua segurança verde-escura).

Números. Sua frieza pontiaguda, a exatidão robótica de seus cálculos preocupa-me. Assim é a lógica que limita tantos olhos de vidro e convicções vazias, respostas prontas para questões profundas e humanas. A racionalidade é confundida com a arrogância, fundada em pontos de vista unilaterais e pobres em sua imobilidade. Mas humanos não são pétreos como os pilares da Ciência.

Creio no movimento, em meu subterfúgio de verdade de fato, de não apenas sobrevivência.

Quem me dera estar selando cartas, e enviando-as para amigos queridos e inimigos velados, e amantes imaginários... Vestir umas roupas mais confortáveis, fazer café, assar uma torta de cereja e conversar com um estranho. Subir uma escada em caracol com degraus de mogno, bater na porta e entrar na ponta dos pés, com um sorriso dual no rosto. "Por quê?", pergunto-me, deliciada. O que haveria em minhas mãos, uma chantagem diabólica, uma rosa azul, uma faca de dois gumes?

Ah, se a didática permitisse que a Física também mostrasse sua ambiguidade quântica! Defenestremos estes vetores indecisos, estas fórmulas inúteis decoradas com frases estúpidas. Tenho a aplicação mecânica de algarismos, e ninguém comenta sobre um gato que está vivo e morto, ao mesmo tempo, numa caixa austríaca.

Surpreenda-me, dissertação científica! Conte-me sobre a doce inconstância de fenômenos que enganam em sua vulgaridade cotidiana.

Sou feita de palavras; meu futuro as abraça sem hesitação. Já cálculos avançados, estes aborrecem-me profundamente. Enxergo-os como meros obstáculos a serem ultrapassados em prol do vestibular (mais um monstro devorador de almas).

Nadar numa piscina gelada, e entre mergulhos encontrar alívio para a ansiedade. Quebrar algumas regras, jogar baralho, partir uns corações, cantar músicas em idiomas que não domino. Aprender a desenhar e moldar algumas ideias fixas em traços melhor delineados. Chorar por algum motivo cabível, e gargalhar sem razão alguma. Queimar fotos antigas, salvar uma criança caindo de um prédio em chamas, planejar uma revolução política, perder um prazo, dormir até tarde, sem culpa ou medo. Corar de vergonha, assoviar alguma marcha antiga, comer bolo de chocolate com cobertura de chocolate (e recheio de chocolate). Abrir gaiolas aleatórias, e neste gesto libertar-me de minhas limitações.

Ah, se o cinismo existe, então está concentrad(íssim)o nesta Biologia desprovida de vida, com nomes esquivos e desenhos que não enchem os olhos de luz. A Biologia técnica e fria, que observa-me em minha carteira e ri-se de mim, deliciada, esperando que minhas pernas feitas para andar fiquem abandonadas, que meus olhos inquietos parem de procurar algum motivo de glória, que minha voz feita para expressar-me (desafinadamente) cale-se perante afirmações e informações que fatigam-me, acentuando minha aflição em busca de algo que não está aqui, não sob essa luz branca e opressiva, ou este relógio que tiquetaqueia tão lentamente, apenas para pontuar sem melodia a tortura minha de cada dia.

Fingir que o mundo está ao alcance de meus dedos. Sonhar, e acreditar que a realidade pode ser mais doce. Ler um bom livro, construir castelos de areia, bailar no caos. Antes deste conhecimento autoritário empurrado garganta abaixo, eu prefiro a vida. Antes desta organização depressiva e opressiva, eu escolho as palavras.

Escrever. De todos os verbos, o meu favorito. Pedi distração, ação, coração, mas tenho lápis e papel. Pedi esperança, leveza e liberdade, mas tenho lápis e papel. Se sou forasteira agrilhoada ou alma vivaz encarcerada, tenho lápis e papel. Sendo lápis e papel, traduzo-me num momento de agitação, e com um sorriso nos lábios, eternizo-me, divertida.

Não serei capturada tão facilmente.


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Deixo este texto em homenagem a todos que procuram uma forma de expansão, uma válvula de escape contra as imposições cotidianas. E sim, escrevi o texto durante as aulas mais terríveis para minha pobre mente, e agora meus colegas que tanto perguntavam que raios eu estava rabiscando terão uma resposta. Espero que gostem dela, de coração. Ainda escreverei uma crítica mais clara quanto ao sistema educacional, mas deixemos esta para uma próxima.